Edição digital
Oferenda é um álbum do Padre José Fernandes de
Oliveira, SCJ, o Padre Zezinho. Lançado em 1983, provocou polêmica em toda a
América Latina ao retratar em suas faixas a verdadeira situação da América
Latina, o que resultou em o governo vetar o disco pelo conselho da Censura
Federal
Neste disco, o destaque maior é a denúncia com que o Pe.
Zezinho, scj mostra a realidade da América Latina e do Brasil.
Lado A:
A começar pela "Cantiga de Ninar Criança Pobre",
na qual a intérprete tenta ninar uma criança pobre e diz a frase que resultou
no vetar da música: No lixo que você talvez tenha que remexer para encontrar o
que comer, talvez também encontre a dignidade, que a ganância pôs para fora
dessa nossa sociedade. A segunda, "Ofertório Latino-Americano",
chamou atenção pela oração desenrolada em versos que falam da realidade latina
e hoje é um sucesso em missas eucarísticas. A terceira, "O Canto do
Índio", retrata a situação que até hoje o nosso índio passa, uma das
músicas do disco que caiu no esquecimento. A quarta "Dai-Nos Hoje o Nosso
Pão", por retratar a situação das revoltas que estouravam na época em toda
a América Latina, foi censurada. A quinta, "Oração dos Pobres Sem Voz Nem
Vez", retrata a seca vivida pelos povos nordestinos que tinham que se
deslocar para os centros urbanos (Rio de Janeiro e São Paulo). A sexta, "O
Canto do Negro", deve ter sido a primeira a ser censurada, pois o racismo
era mais forte na época do que agora.
Lado B:
Começando o Lado B com a polêmica "Não Tire a Minha
Terra", que retratava a posse ilegal de terras que acontecia na época dos
coronéis e hoje enfrentada dos sem-terra que precisam morar a beira de estradas
para sobreviver. A segunda, "Retrospectiva", fala da situação da
crescente industrialização que o Brasil ganhava na época cuja produção poluía
os rios e as lagoas. A terceira, "Santo, Santo, Santo", é uma canção
eucarística que hoje é muito lembrada pelos experts em canto litúrgico. A
quarta, "Um Coração Generoso", fala, mesmo que em linguagem
inteligentemente cifrada, da situação das atitudes cometidas na época pelos
governos Brasileiro e Latinos. A quinta, "Canto da Mulher
Latino-Americana", pode ter causado uma revolução ao anunciar sua letra:
(Descreve meus olhos / Meu corpo, meu porte) ou ainda na passagem: (Descreve a
tristeza que tenho nos olhos / Comenta a malícia que tenho no andar / Nos teus
preconceitos de mil frases feitas / Diz que sou perfeita na hora de amar). O
disco encerra com a celebrativa "Cordeiro de Deus", mas há uma
passagem que incitou a Censura Federal a vetar a canção: (Conheces a nossa
culpa / Conheces a situação / E sabes a causa e o efeito / E também dos pecados
/ Da nossa nação)
Curiosidades
Segundo a história, onze das doze músicas do disco foram
censuradas, num processo de perseguição ostensiva e irracional (todas com
exceção de Santo, Santo, Santo, por se tratar simplesmente de uma canção
litúrgica e não de protesto). Às vezes, o que era aprovado pela policia federal
era proibido pela polícia paulista. Certa vez, um censor do Rio Grande do Sul
não só liberou para venda um dos discos dele, como pediu-lhe uma cópia para
seus filhos. De toda forma pressionado pela repressão, ele exilou-se por seis
meses na Europa, principalmente na Espanha e Itália, onde compôs as músicas
"Por Um Pedaço de Pão" e "Não é Justo", ambas músicas de
protesto disfarçadas incluídas no LP "Não Deixes que Eu Me Canse" de
1978.
Na edição em cd usou-se uma edição da foto original da capa
cortada, sem o rapaz ofertante.
Ficha técnica
LP (1983)
Produção: A. Ursi
Texto (Adaptação na Faixa 6), Letra e Música: Pe. Zezinho,
scj
Arranjos: Paulo Neribe (Faixas 1, 2, 3, 11 e 12) / Wilson
Mauro (Faixas 4, 5, 6, 7, 8, 9 e 10)
Técnico de Gravação e Mixagem: J. Martins
Capa: Irmã B. Cirpiani (Criação e Arte-Final) / Jorge's
Studio (Foto e montagem da Capa Original)
Direção (Coordenação de Produção): Irmã O. Sassi
Gravado nos Estúdios: Edições Paulinas Discos
CD (2003)
Produção Fonográfica: Paulinas-COMEP
Coordenação de Produção: M. T. Konzen
Produção Executiva: A. Ursi
Direção Artística: Pe. Zezinho, scj
Masterização: Ednilson Orsi
Capa: Irmã B. Cipriani (A Capa foi reformulada)
Produção de Arte: Mariza de Souza Porto
Gravado e Masterizado nos: Estúdios Paulinas-COMEP
Lista de Faixas[editar | editar código-fonte]
LP e Fita Cassete
Todas as cançõecompostas por Padre Zezinho,
SCJ.
# Título Duração
LADO A:
1. "Cantiga
de Ninar Criança Pobre" 3'41
2. "Ofertório
Latino Americano" 2'48
3. "Canto
do Índio" 2'33
4. "Dai-Nos
Hoje o Nosso Pão" 3'12
5. "Oração
dos Pobres Sem Voz Nem Vez" 4:37
6. "O
Canto do Negro" 3'15
LADO B:
1. "Não
Tire a Minha Terra" 5'
2. "Retrospectiva" 3'22
3. "Santo,
Santo, Santo" 2'25
4. "Um
Coração Generoso" 3'26
5. "Canto
da Mulher Latino-Americana" 3'10
6. "Cordeiro
de Deus" 1'23
Duração total:
37'32
CD e Formato digital
Todas as canções compostas por Padre Zezinho, SCJ.
# Título Duração
1. "Cantiga de Ninar Criança Pobre" 3'41
2. "Ofertório Latino Americano" 2'48
3. "Canto do Índio" 2'33
4. "Dai-Nos Hoje o Nosso Pão" 3'12
5. "Oração dos Pobres Sem Voz Nem Vez" 4:37
6. "O Canto do Negro" 3'15
7. "Não Tire a Minha Terra" 5'
8. "Retrospectiva" 3'22
9. "Santo, Santo, Santo" 2'25
10. "Um Coração Generoso" 3'26
11. "Canto da Mulher Latino-Americana" 3'10
12. "Cordeiro de Deus" 1'23
Duração total:
37'32
Códigos de lançamento:
LP 625
K7 626
CD 11755-2
Crítica: Disco bastante tenso, no qual o protesto de Padre
Zezinho contra a injustiça social chegou ao nível máximo. Com esse “destempero”,
afinal de contas, foi o segundo álbum de protesto composto, após Verdades, foi
vetado, mas por fim lançado em 1983 durante o ápice da “Década Libertária”
(1980). Décadas depois se percebe que algumas coisas mudaram, como a posição da
mulher na sociedade, que já não é de submissão na mesma proporção do álbum. Da
mesma forma a pobreza já não assola o Brasil do mesmo modo, mas continua
existindo. Assim sendo, Oferenda tem um valor capital dentro da discografia e
história de Padre Zezinho, pois, foi por sua causa que Padre Zezinho se
autoexilou na Europa em 1978 e ainda mostra a insatisfação com a injustiça social em nível máximo
que só seria perceptível em tom tão alto 20 anos depois num mesmo álbum, Oremos
pela Terra, de 2003.
Ou seja, Oferenda é um disco fundamental dentro da
discografia de Padre Zezinho, para quem deseja entender a sua história musical,
ainda que não tenha passado à posteridade como um dos mais conhecidos e ouvidos
de seus discos, graças à polêmica. Pelo menos uma música do álbum passou à
posteridade com bastante sucesso: Santo, Santo, Santo,
justamente a canção que não fora vetada em 1978.
Padre Zezinho SCJ-Oferenda
Cantiga de ninar criança pobre
Pe. Zezinho, scj
Menino pobrezinho da América Latina
Nana, meu bem, nana meu bem
Nana, nana que o amanhã já vem
Menino pobrezinho
Da América Latina
O mundo está mudando
E sua hora chegara
A solução vem vindo
E a justiça reinará
Menino pobrezinho
Da América Latina
Profetas anunciam
Que você triunfará
Seus pais estão morrendo
Pra você viver em paz
Ofertório Latino-Americano
Pe. Zezinho, scj
Aceita, Senhor, nossos dons
Aceita, Senhor, nosso pão
Aceita, Senhor, nosso vinho
Aceita, Senhor, nossa gente
Sofrida oprimida, esquecida
Aceita esta dor que machuca demais
Aceita, também, nossa fome de paz
Aceita, Senhor, nossa fome de amor
Aceita, Senhor, este humano calor
Dos povos latinos que querem viver
Sem fome sem medo
Num mundo de paz
Na paz da justiça de homens iguais
Aceita, Senhor, nosso Deus
Os dons que, por certo, são teus
Aceita, também, nossos povos, Senhor
Crianças e jovens sedentos de amor
E todos aqueles sem voz e sem vez
Com fome de paz e de amor e de pão
Que esperam os ventos da renovação
À luz do que disse Jesus nosso irmão
Canto do índio
Pe. Zezinho, scj
No centro da vida
No ventre da mata
No meio do verde
Debaixo do céu que era a lua
Debaixo do sol que brilhava
Debaixo da lua índio vivia
Índio nascia, índio crescia
Índio vivia, índio corria
Índio dançava, índio plantava
Índio caçava, índio se amava
Índio lutava, índio Morria
Índio vivia feliz
Não tinha muito, mas tinha tudo
Não cobiçava, não precisava
Não esbanjava, nunca roubava
Não enganava, não comerciava
Não devastava, não poluía
Índio sabia viver
No centro da vida
No ventre da mata
No meio do verde
Debaixo do céu que era a lua
Debaixo do sol que brilhava
Debaixo da lua índio vivia
Mas branco chegou falando
Que vem ajudar meu povo
Branco foi empurrando
Índio pra fora da terra
Branco ganhou a guerra
Banco tomou nossa terra
Dai-nos hoje o nosso pão
Pe. Zezinho, scj
Dai-nos hoje o nosso pão de cada dia
Não nos falte a liberdade nem a paz
Não domine sobre nós a tirania
De quem tem tudo mas não se satisfaz
Não nos reste a tentação da força bruta
E na luta por viver
Não pisemos no direito que é dos outros
Que possamos conviver
Que reboe pela América Latina
Um só canto de amizade
Que aconteça nessa América Latina
A justiça e a fraternidade
Não nos leve ao desespero e a revolta
A mania do poder
Que somente favorece aos poderosos
E os que querem tudo ter
Que reboe pela América Latina
Um só canto de igualdade
Que aconteça nesta América Latina
O direito e a liberdade
Não prospere aqui a ideologia
Da vigança por vingar
Não domine sobre nós a tirania
Do dinheiro ou do poder
Que reboe pela América Latina
Um só canto de amizade
Que aconteça nesta América Latina
A liberdade na fraternidade
Oração dos pobres sem voz nem vez
Pe. Zezinho, scj
Pai Nosso
Gritamos o teu nome
Pai Nosso
Teu povo passa fome
Trabalha a terra pra jogar uma semente
Espera a chuva e a chuva não cai
A terra é seca não tem água o sol é quente
Espera açude, açude não sai
O gado morre não tem nada pra comer
A gente, fica de teimoso até morrer
E se a fome não mata
Machuca demais
Quando não chove
A gente muda pra cidade
Procura emprego, emprego não tem
A filharada passa fome de verdade
Não tem dinheiro, dinheiro não vem
A gente vive de saber sobreviver
A gente vive de teimoso até morrer
E se a fome não mata
Machuca demais
A gente se esconde então numa periferia
E pede justiça mas ela não vem
A gente cansa de esperar um novo dia
Persegue a chance, se sente ninguém
A gente grande não tem nada pra fazer
A criançada não tem nada pra comer
Se esta vida não mata
Machuca demais
O canto do negro
Pe. Zezinho, scj
É como dizia Castro Alves:
Auriverde pendão da minha terra
Que a brisa do Brasil beija e balança
Estandarte que a luz do sol encerra
As promessas divinas da esperança...
Negro chegou aqui no porão
De navio inglês
Negro chegou, comprado
Por um patrão português
Negro foi feito escravo
Por preconceito de cor
Negro foi agredido
E pagou o preço da dor
Negro perdeu raiz
Negro perdeu mulher
Negro perdeu família
Negro perdeu a tribo
Negro perdeu a liberdade
Negro perdeu a voz
Negro perdeu a paz
Negro perdeu o riso
Negro perdeu o nome
Só não perdeu a esperança
Só não perdeu a esperança!
E o negro continua esperando que a
Igreja e o mundo falem mais alto
Daquilo que os cristãos e os outros
Homens fizeram contra a minha raça
Contra o meu povo, por causa da nossa
Cor e da nossa cultura!
Não tire a minha terra
Pe. Zezinho, scj
Não tire a minha terra
Não tome o chão que é meu
Não quero a tua guerra
Só quero a minha paz
Não quero o teu dinheiro
Não quero ter demais
Eu quero ter o bastante o suficiente
Pra viver decentemente
Não tenho as armas que você usa
Nem a força que você tem
Não tenho cheque nem documento
Mas não devo pra ninguém
Não quero sangue não quero guerra
e não gosto de matar
Mas não me tente tomar a terra
Porque eu não vou me calar
Você tem tudo e eu não tenho nada
Só a terra que você quer
Não trapaceie nos documentos
Que esta terra tem quem quer
Faz trinta anos que aqui moro
E não sou de guerrear
Mas não me tente tomar a terra
Porque eu não vou me calar
Você tem carro e eu só tenho enxada
Tem diploma e eu não sei nem ler
Não me apareça com documento
Que eu também sei me mexer
Não quero briga não quero guerra
Porque eu sou homem de paz
Mas não me tente tomar a terra
Que vai ver do que sou capaz
Retrospectiva
Pe. Zezinho, scj
Há mais de vinte e cinco anos
Neste mesmo rio e nesta mesma ponte
Sentou-se um jovem sonhador olhando
O sol nascer na linha do horizonte
As águas eram cristalinas e aquelas
Colinas eram verdejantes
A vida em torno borbulhava e a criação
Cantava alegre e radiante
Ai, o tempo voa
A gente corre à toa
E esquece de viver
Ai, da mesma ponte
A linha do horizonte
Eu já não posso ver
Ai, a gente corre
Enquanto a vida morre
Pra nos dar lugar
Ai, o mesmo rio
Corre tão vazio
Que até faz chorar
O pássaro que ali cantava
Se tem descendentes
Os levou embora
O peixe que a gente pescava
As águas encardidas
Puseram pra fora
As fábricas foram chegando
E logo devastando o verde que se via
Os homens foram construindo
E aos poucos destruindo
A vida que existia
Depois de vinte e cinco anos
Nesta mesma ponte
Eu olho à minha frente
Me sento triste e pensativo
Em busca de um motivo
Pra ficar contente
Relembro com quanta alegria
A gente convivia com a natureza
Agora a selva é cimento
E por isto eu lamento
E canto com tristeza
Santo, Santo, Santo
Pe. Zezinho, scj
Santo! Santo! Santo
É o Senhor da luz
Santo! Santo
É o Senhor Jesus
Numa canção sideral
De um hosana total
A criação se extasia
E o céu e a terra também
Entoam seu grande amém
Bendito é aquele que vem
Aquele que vem
Aquele que vem
Em nome da luz
Bendito é aquele que tem
Aquele que tem, aquele que tem
A paz
Nosso Senhor Jesus
Um coração generoso
Pe. Zezinho, scj
Quem não tem coração generoso
Não entrará no Reino de Jesus
Quem não tem coração generoso
Nunca, jamais, jamais vai ver a luz
Quem odeia o seu irmão e quer vingança
Vai à forra e diz que ele pagará
E enquanto não se vinga não descansa
Vence a batalha mas a guerra perderá
Vence a batalha mas a guerra perderá
Quem roubou o seu irmão necessitado
Cobrou caro fez fortuna e enriqueceu
Tem dinheiro e agora é bem considerado
Pode estar rico
Mas por dentro empobreceu
Pode estar rico
Mas por dentro empobreceu
Quem se entrega a qualquer ideologia
E por ela quer matar ou quer morrer
Se ganhar a sua guerra qualquer dia
Corre o perigo de também se corromper
Corre o perigo de também se corromper
Quem tortura e crucfica uma pessoa
Pelo crime de fazer contestação
Já provou que a sua idéia não é boa
Salva o seu trono mas não ganha a multidão
Salva o seu trono mas não ganha a multidão
Canto da mulher Latino-americana
Pe. Zezinho, scj
Descreve do jeito que bem entender
Descreve seu moço
Porém não te esqueças de acrescentar
Que eu também sei amar
Que eu também sei lutar
Que meu nome é mulher
Descreve meus olhos, meu corpo, meu
Porte, me diz que sou forte, que sou
Como a flor
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita e sou feita de amor
Descreve a beleza da pele morena
Me chama de loira, selvagem serena
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeito e sou feita de mel
Descreve a tristeza que tenho nos olhos
Comenta a malícia que tenho no andar
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita na hora de amar
Descreve as angústias da fome e do medo
Descreve o segredo que eu guardo pra mim
Nos teus preconceitos de mil frases feitas
Diz que sou perfeita, qual puro jasmim
Descreve também a tristeza que sinto
Confesso e não minto que choro de dor
Tristeza de ver humilhado o meu homem
Meus filhos com fome, meu lar sem amor
Descreve, seu moço, a mulher descontente
De ser objeto do macho e senhor
Descreve este sonho que levo na mente
De ser companheira no amor e na dor
Cordeiro de Deus
Pe. Zezinho, scj
Cordeiro de Deus
Cordeiro de Deus
Cordeiro de Deus que nos livras do pecado
Tem piedade de nós
Cordeiro de Deus que nos livras do pecado
Tem piedade de nós
Conheces a nossa culpa
Conheces a situação
E sabes a causa e o efeito
Do nosso pecado
E também dos pecados da nossa nação
Cordeiro de Deus
Que nos livras do pecado
Dá-nos a paz
Dá-nos a paz
Dá-nos a paz
Nenhum comentário:
Postar um comentário